O sensacionalismo letal em nossas mídias

A ânsia por altos índices de audiência e a vaidade do sucesso, tem feito de alguns veículos de comunicação virtuais entrarem na seara sórdida do sensacionalismo de maneira que extrapolam por completo qualquer limite do bom senso, fotografias com cadáveres sem o menor respeito pelos familiares dos mortos, a violência no trânsito e as ocorrências policiais na periferia se tornaram uma arena de intolerância que esses veículos propagam diariamente nas redes sociais em Bom Jesus do Itabapoana, região sul capixaba e norte/noroeste fluminense.

Trata-se de um fenômeno que ocorre em toda mídia do país, porém neste texto vou abordar este tema direcionado somente aos veículos locais de nossa região que tem causado sérios impactos em nossa sociedade da camada de baixo poder aquisitivo, digo isso pelo fato desses blogs e sites sensacionalistas somente veicularam um noticiário em que cidadãos negros, pobres e moradores da periferia são os  alvos protagonistas do linchamento moral promovido pelos leitores que são alimentados por esses veículos.

Nesses veículos não há uma matéria sequer que denuncia os casos de violência policial, não aborda absolutamente nada sobre os crimes provocados pelos marginais do colarinho branco em nossas prefeituras, a pauta criminal somente aborda batedores de carteira e “traficantes” com duas buchinhas de maconha, quando esses mesmos veículos noticiam a pauta política o noticiário é completamente favorável aos políticos corruptos sem o menor questionamento de absolutamente nada, salvo raras exceções, os políticos corruptos se sentem nos céus nesses blogs e sites da região.

E o sensacionalismo midiático nas ocorrências policiais extrapolaram todos os limites do bom senso resultando em uma tragédia familiar ocorrida na quinta-feira (26/03) em Bom Jesus do Norte, no qual um site do sul do Espírito Santo noticiou uma suposta tentativa de estupro de um cidadão de 34 anos contra a própria sobrinha de 19 anos, e que a mesma notícia foi copiada em um blog de ampla repercussão da pauta policial de Bom Jesus do Itabapoana.

A repercussão de fatos como este sempre gera imensurável indignação do público leitor, sobretudo quando se trata de fato supostamente ocorrido em nosso meio, na cidade onde vivemos, que diga-se de passagem, com menos de dez mil habitantes o impacto de uma notícia dessas é amplo e irrestrito na propagação da notícia pelas ruas da cidade.

E ao que tudo indica, o cidadão acusado de tentar estuprar a própria sobrinha seria inocente na história noticiada, que somente ouviu a versão da acusação sem que ao menos registrasse que tentou falar com alguém em nome do acusado detido.

Não obstante, agora a dúvida ficará para sempre se houve ou não a noticiada tentativa de estupro, pois o acusado que foi detido e conduzido para Jerônimo Monteiro cometeu suicídio nesta quinta-feira (26/03) tamanha a angústia de quem foi acusado sendo inocente, e para espanto de todos, a própria sobrinha que o acusou da tentativa de estupro chorava copiosamente ao lado do caixão do tio que ela o acusara de tentativa de estupro, o que nos faz no mínimo desconfiar da veracidade da acusação.

O texto da matéria já se mostra contraditório quando informa que depois da suposta vítima ter “lutado” com o tio e se livrado dele na tentativa de estupro, ela passou a noite toda em casa com o mesmo agressor para somente no dia seguinte comunicar a mãe e a tia sobre o ocorrido

Vejam como funcionam os pesos e as medidas desses veículos de comunicação sensacionalistas, se lembrarmos que em 2014 eu veiculei uma notícia de cunho semelhante, só que envolvendo supostamente pessoas de classe social elevada, e mesmo assim não citei nome, endereço e muito menos qualquer fotografia, salientando ainda que o acusado tinha sua prisão decretada no mesmo dia, e o mesmo conseguiu o habeas corpus para defender sua inocência.

Já no caso que reporto neste texto, a fotografia que publicaram e replicaram na matéria, apesar de estar com o rosto do acusado distorcido, para quem o conhece ficou fácil de identifica-lo, ainda mais com as iniciais de seu nome divulgados.

Depois desse lamentável episódio, o que se espera dos administradores desses veículos de comunicação é uma profunda reflexão acerca do padrão de jornalismo que esses exercem, ficando nítido que a “imparcialidade” e a conduta criteriosa somente se aplica pra o andar de cima, onde se constitui o poder, diferente ao tratamento dado aos negros, pobres e periféricos que são expostos diariamente nas prateleiras da intolerância nas redes sociais.

Este tipo de jornalismo que constantemente joga a sociedade contra si mesma não contribui em absolutamente nada com o desenvolvimento social, moral e econômico de nossa cidade, sou capaz de arriscar que mais da metade dos jovens detidos pela polícia envolvidos por tráfico de drogas são meros usuários que já foram liberados, e esses mesmos blogs não noticiam que tanto a Polícia Militar como a Polícia Civil cometem erros de tipificação dos crimes noticiados que resultam no arquivamento dos mesmos.

Desta maneira, a notícia veiculada da detenção desses casos acima mencionados se torna como uma espécie de julgamento onde a reação dos internautas em muitos casos é de indignação com o blog que descaracterizou a fotografia, pedindo que “mostre a cara deste bandido para sabermos com quem lidamos”, mesmo que muitos desses “bandidos” são inocentes e vitimados pelo sistema.